Os participantes da XI Mostra e IV Festival de Circo Social, que encerram nesta sexta-feira, 29, além do público que prestigiou a sua apresentação, nesta quarta-feira, no Parque Ecológico Diva Paim Barth, puderam conhecer um pouco do trabalho do bufão, característica do palhaço que busca o humor através da crítica da atualidade. O artista, que há mais de 15 anos pesquisa esta arte, interpretando o Reverendo Fidalgo, afirma que a sua proposta não é de criticar a religião ou a Deus, mas as pessoas que falam em nome de Deus ou Deuses para ganhar dinheiro em cima disso. “Eu criei um espetáculo onde levo magia para ludibriar a plateia. Falo palavras doces, palavras que emocionam, que deixam as pessoas mais serenas, calmas. Aí venho com um balde de água quente, não fria, provocando uma reflexão através da graça, do humor”.
É uma pesquisa árdua, diz ele, muitas vezes não bem vista por criticar temas da atualidade, como a política, pedofilia, drogas, entre outras questões, que muitas vezes as pessoas não estão tão preparadas para ouvir. “O bufão, fala coisas sérias, mas brincando. Ele fala coisas engraçadas, mas que levam as pessoas a pensar sobre o que ele falou, que é algo sério”. O artista diz que o bufão tem muito a ver com ele, tornando-se não um personagem, mas ele próprio, externado através da arte os seus pensamentos.
Por fazer esta abordagem mais crítica, explica o artista, sempre tem um cuidado de verificar para quem esta se dirigindo e a forma como deve abordar, fazendo uma crítica, porém sem ser ofensivo ou o dono da verdade. “Se vou numa feira, como estive no ano passado, uso uma abordagem. Se vou a um programa de tevê, é outra”, explica ressaltando que os públicos são heterogêneos, com diferentes tipos de crenças e ideologias. “Por mais que eu tenha uma opinião, não posso expor e achar que eu é que estou certo. Eu levo a informação de forma que todos percebem que estas coisas acontecem em diferentes religiões, independente de ser católico ou evangélico. Faço um trabalho diferenciado para cada lugar que vou, conforme o público para quem vou falar”.
Outra característica do bufão, completa o artista, são os exageros em questões físicas, que visam provocar uma identificação das pessoas e provocar o riso pelo exagero. O seu personagem é careca, barrigudo e com pernas finas. As pessoas, de alguma forma, se identificam ou identificam outras pessoas a sua volta. Para o bufão, no entanto, estas situações não são motivo de desgraça de insatisfação, mas de riso, de divertimento. “A gente dá risada do trágico, que se transforma em cômico, mas não sofremos por isso. Sou careca, gordo e da perna fina. E daí? Sou feliz mesmo assim”, analisa, refletindo o pensamento do bufão.
Integrante de família circense Reverendo Fidalgo, que nasceu Marcos Freitas e hoje integra a Cia Teatral Palhaços da Corte, de Curitiba, contrariou as orientações da mãe e ingressou no curso de Belas Artes. Depois de repetir números executados pelo pai, que era palhaço, encontrou no bufão a sua vertente artística. Apresenta-se em festas de casamento, eventos de empresas, festivais de circo pelo país, casas de espetáculo e principalmente na rua, onde leva a sua caixa de som, monta a sua pequena estrutura, e diverte o público. Depois, percorre a plateia, passando o chapéu, não pedindo esmola, como explica, mas o reconhecimento das pessoas pelo valor da sua arte.
Segundo ele, tanto o palhaço tradicional como o bufão exigem muita pesquisa e habilidade. “Ele precisa fazer as pessoas rirem, mas tem que ter conhecimento de diversas outras habilidades. Antes de ser palhaço, o artista passou por diversas outras coisas. Ele varreu o pátio do circo, fez pipoca, aprendeu malabares, andar de monociclo, trapézio entre outras atividades, incluindo também o humor para tornar-se engraçado e divertir as outras pessoas. Não é tão simples, na verdade é um artista que tem muitas cartas na manga”.
Participando mais uma vez da Mostra em Toledo, Reverendo Fidalgo fez algumas intervenções durante o evento e um espetáculo ao ar livre no Parque Ecológico Diva Paim Barth, onde interagiu com o público, provocou várias gargalhadas e a acabou “batizando-se” nas águas do lago, sob os aplausos dos seus fieis que acompanhavam a apresentação.
Texto: Eliane Cargnelutti Torres
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