02 de Junho de 2016 at 17:27h

Crise na rede hospitalar sobrecarrega UPA de Toledo

A Portaria Nº 2.395 do Ministério da Saúde (MS) para o funcionamento das Unidades de Pronto Atendimento (UPA’s) diz que o tempo máximo de permanência do paciente no local é de 24 horas. Se neste período, de acordo com a avaliação médica, sejam necessários outros procedimentos, o cidadão deverá ser encaminhado para uma internação hospitalar. Em Toledo, mesmo com indicação médica, estas internações na rede hospitalar não têm acontecido.

Esta falta do acolhimento dos pacientes nos hospitais tem emperrado o fluxo e causado o agravo da situação de muitos pacientes. O problema ocorre, não somente em internamentos de média complexidade, mas também nos de alta complexidade. Na quinta-feira (02), por exemplo, dois pacientes permaneciam entubados e aguardando vaga em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na sala de emergências da UPA. Um deles, C. Z. de 67 anos, precisa da transferência com urgência.

Com problemas respiratórios graves, o paciente necessita do atendimento especializado, o que segundo a diretora da UPA de Toledo, Vania Gonçalez, não é possível no local. “Aqui temos profissionais competentes, mas nossos médicos não são intensivistas ou, neste caso em especial, pneumologistas. Este paciente precisa ser assistido por estes especialistas e isto só pode ser feito em um hospital”, disse a diretora em tom de desabafo, lembrando que a liberação das vagas acontece por meio de uma central de regulação gerenciada pelo Estado do Paraná.

A falta de atendimento na ‘outra ponta’, como cita Vânia, compromete o fluxo de acolhimento dos demais pacientes. “Preciso ter, em todos os momentos, três a quatro servidores da enfermagem, além do médico, dando suporte à vida destes pacientes. Se os hospitais estivessem absorvendo a demanda de Toledo, que é sua obrigação e conforme fluxos previstos na portaria do MS, eu teria mais técnicos de enfermagem, enfermeiros e médicos atendendo os pacientes de menor urgência”, explicou.

A UPA tem 25 leitos de observação para pacientes que aguardam exames e outros procedimentos para o diagnóstico, mas já chegou a ter 45 pessoas sendo cuidadas. “Isto ocorre porque não temos para onde encaminhar estes pacientes. Algumas pessoas chegam a citar o Mini Hospital como uma solução, mas os pacientes de baixa complexidade geralmente têm suas situações resolvidas nestas 24 horas. Se estivéssemos insistido com o Mini estes pacientes sequer teriam esta sobrevida por que lá não existia uma condição mínima para mantê-las entubadas. Mesmo com a dificuldade deste momento, a UPA ainda é nossa salvaguarda”. Segundo o diretor geral de Saúde de Toledo, Fernando Pedrotti, a UPA de Toledo oferece uma condição de trabalho diferenciada, ressaltando a disponibilidade de medicamentos, estrutura de suporte aos diagnósticos. “Temos profissionais médicos que trabalham em outros municípios e relatam a boa condição de trabalho para os atendimentos de urgência e emergência em Toledo”.

Apesar disso, o grande número de atendimentos e a dificuldade em encaminhar pacientes regulados para a rede especializada gera problemas. “Os familiares veem seus entes em uma situação que não é a ideal, cobram dos servidores municipais, que não tem gerência sobre a condição, e isso causa o estresse em ambos”, explicou.

Mesmo com estas situações, existem os cidadãos que destacam o bom atendimento da UPA. Um deles, o psicoterapeuta Valdemar Nelson, relatou ter sido muito bem acolhido. Cuidador de um cunhado com várias enfermidades, que culminaram com o óbito do parente, Valdemar relatou o bom trabalho dos profissionais, desde o transporte até a emergência. “Estabilizaram, fizeram todos os exames necessários, porém a situação era muito grave, não tinha como reverter. Temos ciência de que todos cumpriram seu papel”. Valdemar ainda completou dizendo que nunca será possível agradar a todos.

Números da UPA em maio

A UPA atendeu, em maio, 7.999 pacientes. Destes 5.750 foram adultos. Segundo o Protocolo de Manchester, que regula a gravidade dos atendimentos, sete foram classificados como emergência (vermelho), 171 atendimentos muito urgentes (laranja), 1483 atendimentos urgentes (amarelo), 3604 atendimentos pouco urgentes (verde) e 485 não urgentes (azul). Os atendimentos pediátricos foram 2.249, com duas emergências (vermelho), 423 atendimentos muito urgentes (laranja), 251 atendimentos urgentes (amarelo), 1491 atendimentos pouco urgentes (verde) e 82 não urgentes (azul).