A Prefeitura de Toledo, em parceria com diversos órgãos que compõe o Grupo de Trabalho sobre Energias Renováveis – com ênfase em biogás – de Toledo (GTER-Biotol), tem buscado desenvolver uma nova matriz energética a partir do uso da biomassa residual proveniente da produção agropecuária, a exemplo da suinocultura. O objetivo é trazer conforto e melhor qualidade de vida, emprego e renda para quem mora no campo. O grande plantel de suínos e gado de leite em Toledo, gera um volume considerável de matéria prima para os biodigestores, principal ferramenta para o início deste processo.
Único município brasileiro a integrar o Centro Internacional de Energias Renováveis – Biogás (CIBiogás-ER), formado pela associação de 17 instituições, e que busca incentivar o uso e o aproveitamento do biogás na cadeia produtiva, Toledo já possuí propriedades que se beneficiam da energia produzida por meio do aproveitamento deste produto. Uma delas pertence à família Volkweis, da Linha São Pedro, distrito de Vila Nova. Com um projeto iniciado ainda em 2007, com a construção de uma pocilga onde estão alojados aproximadamente 2.200 suínos, Irineu Volkweis, patriarca da família formada ainda pela esposa Claudete e os filhos Djeimi e Djoni, conseguiu diversos benefícios do aproveitamento do biogás a partir em 2011.
Com aproximadamente 10 alqueires, além da suinocultura, o produtor cultiva milho, soja, pastagem e cria 22.500 frangos de forma integrada com uma cooperativa. “Sempre há bastante trabalho”, afirmou Claudete. Porém, a agricultora lembrou que muito esforço foi poupado a partir do biogás. “O aviário, na época da fornalha, obrigava o Irineu (marido) e o Djoni (filho) a irem alimentar o fogo a cada duas horas. Então imagina como era difícil”. Era este o sistema que mantinha o aviário aquecido durante as noites frias da Linha São Pedro. “Encarávamos temperaturas negativas em algumas ocasiões. Tínhamos que sair de casa, onde estávamos quentes, enfrentar o frio para chegar ao aviário e novamente o calor de mais de cinquenta graus da boca do forno”, explicou o filho Djoni. “Tinha o peso da lenha também”, acrescentou Irineu.
Só por isto, de acordo com Irineu, já valeria a pena o investimento realizado pela família, porém os benefícios foram muito maiores. O biogás é aproveitado na cozinha, no digestor/desidratador de animais mortos e na produção de energia da propriedade. “Zeramos nossa conta de luz”, comentou Claudete. A fatura emitida no mês de abril de 2014 pela Companhia Paranaense de Energia (Copel) aponta R$ 0,00. Segundo Djoni Volkweis anteriormente a conta chegou aos R$ 2 mil/mês.
“Nós temos a mania de contar com o dinheiro que chega à nossa conta e poucas vezes somamos o que evitamos gastar”, afirmou Irineu ao calcular que evita custear cerca de R$ 3.500,00 por mês com o auxílio do biogás produzido na propriedade. “Era a lenha que a gente queimava, era o desgaste dos equipamentos, como o trator que certa vez tocou o gerador da propriedade por 72 horas, e também o nosso trabalho. Se eu ainda tivesse que aquecer o aviário com lenha iria contratar um funcionário que não me custaria menos do que R$ 1.500,00 por mês”.
Mesmo com toda a economia, o principal apontamento feito pelo produtor foi a possibilidade de manter os filhos próximos. Djoni não pensa em sair da propriedade. “Gosto daqui e o conforto que temos agora, ainda mais com a possibilidade de investirmos em uma nova casa. Isto faz com que eu mantenha esta vontade de continuar tocando a propriedade”. A diminuição do trabalho com a avicultura, a partir do biogás, também motiva a manter a criação de frangos. “Se eu tivesse que voltar ao aquecimento feito através de fornalha, eu abandonaria a atividade”. Claudete complementou convidando as pessoas interessadas a irem à propriedade conhecer o sistema. “Tem gente que não acredita no quanto fomos beneficiados com a instalação do sistema de aproveitamento do biogás”, finalizou.
Potencial produtivo em Toledo
Segundo informações da Assessoria para Captação de Recursos e Relações Institucionais, o potencial de produção de biometano no território toledano é superior de 110 mil metros cúbicos diários e o projeto do Condomínio de Agroenergia do Lajeado Grande que representa 2,5% do potencial produtivo do município, o que é um indicador do elevado potencial dessa fonte de energia. “É algo onde ganha o meio ambiente, os parceiros e, principalmente, os produtores rurais que terão mais uma fonte de renda”, explicou o assessor Luiz Carlos Balcewicz.
Visando gerenciar todo este potencial produtivo, a Prefeitura de Toledo iniciou, em 2013, a construção do Programa Municipal de Desenvolvimento e Incentivo ao Uso de Energias Renováveis – ênfase em Biogás – para Toledo (PMER-BIOTOL). Conforme Balcewicz, a partir do programa, a Prefeitura poderá custear as despesas dos projetos individuais dos biodigestores e do processo de produção de biogás de cada propriedade rural. “Além disso, também poderemos vir a investir em unidades de tratamento de biogás, que é uma central purificadora e enriquecedora do biogás, para transformá-la de acordo com as normas da Agência Nacional de Petróleo (ANP)”, comentou.
Em Toledo, três projetos estão em andamento. O mais adiantado é o Condominio de Agroenergia do Lajeado Grande, mas ainda existe o das Linhas Rocio, Recanto, Boiko e São Valentin e um para a região de Concórdia do Oeste. O prefeito Beto Lunitti disse que os produtores de suínos e bovinos de leite estão desejosos em fazer história. “Gerar energia, renda e junto com outros programas que o governo municipal tem em prol dos agricultores, como o Rodovias Rurais – Caminhos para o Desenvolvimento e o da Agricultura de Precisão fazer a sucessão das propriedades. Isto é o mais importante para os produtores e, consequentemente, para nós”, comentou.
Importância dos condomínios
O produtor rural Djoni Volkweis reforçou os benefícios do biogás e acrescentou a importância do Governo Municipal promover a ação por meio de condomínios. “Hoje nossa produção de gás, em determinadas épocas, excede e acaba sendo queimada. Em outras ele atende nossa necessidade, porém impede que eu aumente a produção de frangos”. Segundo ele, com o condomínio, as propriedades com menor produção em algumas épocas poderiam receber o biogás e devolvê-lo nos períodos onde há um volume maior. “Além disso, tem a questão dos investimentos em compressores para armazenagem, entre outras coisas, que seria facilitado caso fossem instalados de forma associativa ou cooperativa”, explicou.
Vantagens para as propriedades a partir do uso do biogás
Melhoria das condições ambientais locais e da comunidade;
Eliminação de odores (mau cheiro);
Redução de vetores de doenças (moscas, principalmente);
Uso como energia térmica – aquecimento de aves e suínos;
Utilização em substituição ao GLP no fogão;
Melhoria da higienização de equipamentos de ordenha mecânica e utensílios em geral (melhor preço do leite);
Maiores ganhos com a redução dos custos de produção (biofertilização dos solos e das culturas);
Eleva a autoestima das famílias (poluidor não, mas sim protetor);
Fortalece as condições predisponentes para ampliar e melhorar a sucessão nas propriedades.
Desafios
Entre as dificuldades encontradas para o desenvolvimento de projetos relacionados ao biogás, o assessor para Captação de Recursos e Relações Institucionais, Luiz Carlos Balcewicz apontou as lacunas de legislação federal e estadual quanto ao uso da energia a partir do biogás/biometano. Outro problema é em relação ao direito do agricultor em utilizar o gás produzido em sua propriedade e a definição pelo produto caso ele venha a ser disponibilizado para terceiros por meio de uma concessionária. “É uma tecnologia inovadora, criativa e emancipadora dos produtores rurais em termos energéticos que vem sendo aperfeiçoada no Brasil há mais de 40 anos e no mundo há séculos”, explicou.